Três estratégias para uma modernização bem-sucedida do mainframe

Por Petra Goude

Embora os mainframes sejam frequentemente dispensados da estratégia por serem uma tecnologia antiga, para muitas empresas eles continuam a ser a pedra angular de uma estratégia de TI híbrida, oferecendo suporte às aplicações e processos de negócios mais importantes da organização. Em média, as empresas com mainframes os utilizam para executar 56% de suas aplicações de missão crítica, de acordo com o relatório State of Mainframe Modernization 2024 da Kyndrylrelatório State of Mainframe Modernization 2024 da Kyndryl, que se baseia em uma pesquisa com 500 líderes de TI e de negócios. Nessa pesquisa, 89% dos entrevistados disseram que o mainframe era importante para suas operações.

Se o mainframe for essencial para sua empresa, ele não deve ser isolado. E é fundamental que ele seja modernizado e usado em todo o seu potencial, especialmente devido às oportunidades trazidas pela IA generativa.  

A modernização geralmente assume uma entre três formas. Nossa pesquisa constatou que 40% dos entrevistados estão modernizando as aplicações e, ao mesmo tempo, mantendo-as no mainframe. Outros 35% estão se modernizando e integrando aplicações ou workloads à nuvem ou a outras plataformas dentro de seu patrimônio de TI híbrida. E 25% dizem que estão retirando totalmente as aplicações do mainframe. 

Cada uma dessas abordagens é igualmente válida, e cada uma é apropriada em um determinado contexto. Não existe uma abordagem correta — o objetivo é combinar o workload certo com a plataforma certa.

As empresas obtiveram um ROI impressionante em um ano com seus esforços de modernização (entre 114% e 225%) dependendo da abordagem adotada.

Isso não significa subestimar a dificuldade da modernização. A alta liderança e até mesmo os conselhos de administração costumam ser envolvidos em iniciativas de modernização, justamente porque as aplicações executadas no mainframe são essenciais para as operações de negócios diárias.  

Em nossa experiência com grandes organizações e em pesquisas, descobrimos que três estratégias são fundamentais para ajudar as empresas a modernizarem seus mainframes com sucesso e obterem o benefício mais importante de todos: vantagem competitiva sustentada.  

Aborde a modernização como parte de uma estratégia completa de TI híbrida

Historicamente, os mainframes têm sido mantidos em silos dentro do ambiente de TI de uma organização. Isso não é mais necessário ou estratégico. Caso em questão: você pode realizar uma ampla gama de desenvolvimentos modernos no mainframe. Você pode usar APIs para conectar seu mainframe à nuvem. Você pode executar contêineres no seu mainframe. O diretor de uma agência governamental australiana que participou da pesquisa nos disse que sua equipe havia dividido algumas de suas aplicações monolíticas em microsserviços e, em seguida, as colocou em contêineres que são executados no mainframe. Isso permite novas funcionalidades e atualizações sem causar tempo de inatividade ou comprometer a estabilidade do sistema.

Abordar a modernização do mainframe como parte de uma estratégia geral de TI híbrida permite que você otimize seus processos e insights operacionais e faça melhor uso de tecnologias como IA e automação. Uma empresa que deseja verificar se há fraude em suas transações só poderá testar uma amostra dessas transações se coletar dados em um terminal de ponto de venda, enviar esses dados para a nuvem, executar um algoritmo e, em seguida, retornar os resultados. Ao fazer tudo isso no mainframe, a empresa ganha uma velocidade significativa e pode verificar todas as transações.

Os líderes de tecnologia e de negócios estão descobrindo casos de uso de IA e IA generativa que são adequados para mainframes. Cerca de 86% dos entrevistados disseram que estão implantando ou planejando implantar a IA generativa no mainframe. Uma seguradora brasileira que participou da nossa pesquisa está usando IA generativa para encontrar e analisar relações complexas de dados em seus conjuntos de dados, ajudando a informar suas estratégias de avaliação de riscos e marketing. Uma empresa de viagens alemã usa IA para otimizar a programação de voos e a atribuição de tripulações. Ao integrar essa tecnologia ao seu ambiente de mainframe, eles veem o potencial para melhorar as operações, a experiência do cliente e a segurança cibernética.

O mainframe tem a potência e a velocidade necessárias para treinar e executar grandes modelos de linguagem. Em muitos casos, os dados necessários já estão no mainframe. Para algumas organizações e casos de uso, faz mais sentido executar o modelo no mainframe do que transferir dados para um modelo executado na nuvem.

Adote uma abordagem iterativa

É tentador tentar modernizar seu mainframe de uma só vez.

Essa é uma má ideia. Uma abordagem big-bang raramente leva ao sucesso duradouro da modernização. O fator original para a modernização e os casos de uso mais importantes podem ser negligenciados na escala de um esforço maior. E, frequentemente, um plano para fazer tudo de uma vez na verdade significa que nada é feito ou há o risco de falhar completamente. Poucos querem correr o risco.

Em vez disso, deixe que as metas de negócios determinem o escopo de sua modernização:      

• Que inovação você deseja trazer para a empresa? 
• Que recursos você deseja oferecer? 
• Que tecnologia poderia dar suporte a isso? 
• Realisticamente, quais são as opções que você tem? 
• Quanto isso pode custar?

Você deve considerar cada aplicação separadamente, e cada workload alinhado a essa aplicação. 

Ao trabalhar de forma iterativa, você diminui a necessidade de ver o futuro. Se você embarcar em um programa de modernização de três anos, há uma boa chance de que o mundo (e, principalmente, sua empresa) seja muito diferente daqui a três anos em relação ao que é agora. Se você der um passo e uma meta de negócios de cada vez, poderá fazer ajustes conforme as condições mudarem. 

Enfrente a lacuna de habilidades

Em nossa pesquisa, as organizações dizem que uma série de habilidades está em falta, desde IA (43%) até segurança cibernética (45%) e habilidades específicas de mainframe (41%).  

Ainda assim, as empresas estão encontrando maneiras de realizar o trabalho. Eles estão aprimorando suas habilidades, contratando estrategicamente e fazendo parcerias para encontrar o conhecimento especializado que as ajudará a se modernizar. Nossa pesquisa constatou que 77% dos entrevistados estão recorrendo a parceiros externos para preencher lacunas em seus bancos de talentos. Estão investindo pesadamente em segurança cibernética e treinamento sobre regulações, analytics e IA. 

É importante desenvolver tanto a amplitude quanto a profundidade das habilidades. Na Kyndryl, estamos treinando 5.000 de nossos especialistas em mainframe em IA e temos mais de 41.000 certificações de hyperscalers. Você precisa unir várias plataformas e tecnologias, do mainframe à nuvem e à IA.

A IA generativa também pode ser parte da solução. As organizações dizem que não têm muitas habilidades em IA, mas também veem o potencial de usar a IA generativa, por exemplo, para traduzir linguagens antigas em novas. Isso ajudará as empresas a entender melhor suas aplicações monolíticas. As empresas já estão usando a IA para entender melhor como seus dados são mapeados e para encontrar dependências em suas aplicações. Impressionantes 71% das empresas em nossa pesquisa afirmam que estão planejando ou já estão usando insights de IA generativa para apoiar a modernização do mainframe. 

Nenhuma empresa se mantém competitiva se ficar parada. Os programas de modernização estratégica estão garantindo que os mainframes continuem a atender às necessidades de negócios críticas de hoje e evoluam para atender às demandas de amanhã.  

Petra Goude é Líder de Prática Global para Core Enterprise & zCloud na Kyndryl.